terça-feira, 17 de junho de 2008

Quatro graus

-Baby, tu tem certeza que vai no futebol?
Depois de perceber que eu colocava a roupa pra sair, ela deitou-se e ligou o laptop. Quatro graus, dizia ali.
Há dois meses eu não jogava. A cada segunda-feira eu e meus amigos publicitários esperamos ansiosamente para não recebermos uma ligação do agrônomo dizendo que o jogo será suspenso. Hoje não. Hoje ninguém queria jogar. O dia mais frio do ano.
-Baby, faz um gol pra mim!
Ela ainda não sabia que eu era goleiro. A pior das profissões, a mais ingrata.
No frio ainda pior.
Faltavam dez minutos para as dez da noite. O jogo anterior ao nosso estava horroroso, os quatorze jogadores encarangados. Um a um meus amigos chegavam reclamando do tempo, torcendo pela ligação do agrônomo. Mais uma vez ele acabou com nossa felicidade. Houve jogo.
E o nosso também foi um horror.
Minha defesa foi dilacerada, esquartejada, aniquilada impiedosamente pelo Thiago e pelo Maurício. Perdi a conta de quantos gols tomei. Cheguei a esquecer o frio. Em uma falta o Rafael, que estava na barreira, pediu "por favor, não acerta em mim". Foi o pedido mais humano que eu já escutei em nossos jogos.
Cheguei em casa sorrindo, como se tivesse vencido.
-Como foi? - me perguntou ela preparando uma jantinha ótima.
-Tomei uma sacola de gols, mas dei muita risada.
-Vocês são loucos, jogar com esse frio.
Ela pode não entender muito de futebol, nem de como nós, homens, nos encantamos por coisas sem sentido, como jogar nessas condições meteorológicas.
Mas já deve imaginar porque a gente odeia tanto o agrônomo.

2 comentários:

fashionboring disse...

Baby... estava bom o jantarzinho?

Anônimo disse...

uhauhauhauhauau!
muito bom!
tu acaba de ganhar um leitor assíduo.
abraço, meu velho!
parabéns pelo blog!

Thiago (que também torcia pela ligação do agrônomo)